Cortando o carboidrato.
- Cris Fernandes
- 24 de set. de 2017
- 3 min de leitura

A imagem ao lado causa risos e ambiguidade. O verbo cortar tem sentido de separar, dividir alguma coisa em duas ou mais partes (no caso a pizza), mas também de eliminar, suprimir, retirar algo (carboidrato da dieta). Esse fenômeno linguístico da ambiguidade, também chamado de anfibologia, ocorre quando uma mensagem possui mais de um sentido. As diferentes significações podem ocorrer no nível lexical ou sintático, por exemplo, em razão de um termo polissêmico ou determinada construção sintática.
Você consegue identificar a duplicidade de sentido na frase em (1)?
(1) Soubemos da reunião no escritório.
Nesse caso, as leituras são: soubemos da reunião apenas quando chegamos/estávamos ao/no escritório ou soubemos da reunião que ocorreu no escritório (para a qual não fomos convidados!?).
A frase (2) carrega, igualmente, dualidade interpretativa: Dilma tomou alguma atitude que fez com que os eleitores ficassem felizes ou Dilma saiu de algum recinto em que havia eleitores felizes, contentes (ops).

(2) Dilma deixou os eleitores felizes.
E para a sentença em (3)?
(3) Lady Gaga pegou o ônibus rápido.
Também existe mais de um sentido: Lady Gaga pegou o ônibus rapidamente, sem
demora ou Lady Gaga pegou o ônibus que fazia uma linha rápida, direta.
Cavando um pouquinho mais, ainda podemos extrair outras leituras. O verbo pegar é ambíguo uma vez que pode significar segurar, mas essa possibilidade de interpretação fica esvaziada, pois seria uma ideia absurda uma pessoa segurar nas mãos um ônibus (a menos que fosse de brinquedo ou que Lady Gaga tivesse superpoderes).
Porém, se a frase fosse Lady Gaga segurou o ônibus, do mesmo jeito haveria mais de um sentido: segurar pode ter leitura de impedir o movimento, atrasar. Sei o que você está pensando... as palavras são caprichosas!...
O esclarecimento de enunciados ambíguos exige conhecimentos de várias áreas e perspicácia do leitor. Digo isso por que diante de uma chamada de jornal como A interpretação dos sonhos, por exemplo, notamos a possibilidade de mais de um sentido para ela. A referência pode ser a um artista que realizou uma interpretação que classifica como dos sonhos ou ao livro de Freud que tem esse título. Nesses casos, é sempre bom explicar, deixar claro do que se trata.
(4) A interpretação dos sonhos: Cauã Reymond realiza melhor trabalho de sua carreira.
(5) A interpretação dos sonhos: nova edição do livro de Freud.

Como evitar a ambiguidade? Muitas vezes, o duplo sentido é devido a apenas um descuido do redator da mensagem, por isso faça uma leitura atenta antes de enviá-la. Você também pode buscar conhecer casos de construções que quase sempre levam à dupla interpretação, como aquelas com pronomes (seu, sua), adjuntos adverbiais, adjetivos.
Lembre-se de que você pode reescrever a frase, usar um sinônimo, adicionar um aposto, uma explicação mais elaborada, deslocar algum constituinte. Há infinitas opções.
Todavia, a ambiguidade é bem-vinda em alguns casos (diria até que proposital), como na publicidade, nos textos cômicos, na poesia. O jogo de palavras e os trocadilhos criam um efeito inesperado para chamar a atenção do receptor. Leia as tirinhas e veja se não é isso mesmo que ocorre.
Agora pratique! Desvende as ambiguidades das frases a seguir:
(6) Maria Julia Coutinho falou de São Paulo com o Bonner.
(7) Garfield enterrou a lasanha que encontrou no quintal.
(8) Angélica viajou no carro dela.
(9) O cachorro do Luciano Huck está doente.
(10) Os torcedores tristes não foram ao jogo do Palmeiras.

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