Capitão Fantástico
- Cris Fernandes
- 23 de dez. de 2017
- 3 min de leitura
Os livros podem nos enlouquecer (no bom sentido), abrir nossas mentes, nos tirar da ignorância. Para muitos pais, a coisa mais importante que puderam dar aos filhos foi o estudo. Todos os anos milhares de faculdades formam advogados, médicos, geógrafos, historiadores, veterinários. Porém, na contramão disso, milhares de pessoas permanecem analfabetas.

A pergunta é: você abriria mão da sua educação, da educação tal como é hoje, com as crianças dentro de uma sala em carteiras enfileiradas e livros com perguntas e conteúdos prontos? Que tipo de educação deve ser proporcionada às crianças? Quando deve começar?
O que você faz com o que aprende? O modo de aprender influencia a velocidade do entendimento? Você prefere uma escola conservadora, que ensine o bê-á-bá dos livros e que faça seu filho ser aprovado nos melhores vestibulares, ou você prefere uma escola que valorize a formação humana dele, ensinando antes de conteúdo, valores (e não estou falando de religião). Você educaria seu filho em casa se pudesse? São muitas perguntas. Eu sei. Não se apresse em respondê-las.
Sinceramente, acho que o futuro da escola será bem diferente do modelo que temos atualmente. Já existem novos modelos, inclusive, mas talvez sejam iniciativas (diria até que experimentos) que não atingem a massa. Também não sei se por serem diferentes isso as torna melhores. Vivemos no Brasil e conhecemos nossa realidade. Há cenários bastante desoladores. Claro que há histórias de sucesso (elas viram matéria de jornal), porém ainda temos muito o que progredir.
Toda essa introdução é para convidá-lo a ver o filme Capitão Fantástico, que traz a história de uma família que vive afastada da sociedade, com crianças que não frequentam uma escola intitulada de normal, mas nem por isso são alienadas ou menos aptas. Bem o contrário disso (pelo menos em certos aspectos). Na realidade, elas são encorajadas a ter opinião própria e não simplesmente repetir o que já foi dito. Falam várias línguas, leem muito, são ensinadas sobre como sobreviver na floresta, comemoram o aniversário de Noam Chomsky (um humanitarista, segundo o personagem principal, e não o Natal, com seu elfo, como ele diz, Papai Noel). Mas chega um momento em que os conflitos ideológicos batem à porta e os problemas são inevitáveis (sem spoilers).

No fim, acho que a escola é sim importante. Crianças precisam estar em contato com outras crianças. Afastá-las do convívio social não necessariamente significa protegê-las ou fazer com que sejam melhores seres humanos. A questão que coloco é o tipo de educação oferecida e que desafios propõe. Aprender envolve mais que ter habilidades cognitivas. Habilidades sociais e emocionais são tão importantes quanto. Todos sabemos disso. A questão é como colocar em prática e a escola ajuda nesse ponto.
Estamos vivendo uma mudança de era. A tecnologia tomou conta de quase tudo. Porém, ao mesmo tempo em que proporciona o aprendizado de novas habilidades, atrofia outras. Não sei onde vamos parar com tudo isso. Se livros não chegam para todos, computadores e smartphones muito menos. Viveremos a maior segregação social/cultural de que temos notícia na história da humanidade? (Exagero ao perguntar ou sequer a cogitar?!). Isso nos coloca em uma encruzilhada e quando alguém diz que se formou, costumo pensar que, na verdade, concluiu apenas uma pequena etapa da formação. Ninguém nunca se forma, só termina uma fase e passa a outra. Pena que nem todos podem dizer isso. O Capitão Fantástico tentou à sua maneira. E nós, estamos satisfeitos com o que temos, com o nosso modo de levar as coisas?
Comments