Literatura, dança e teatro
- Cris Fernandes
- 11 de out. de 2017
- 2 min de leitura

Hoje acordei com uma das minhas escritoras favoritas na cabeça. Pensei nos livros que li, nas personagens, nas passagens mais marcantes. Não tem aqueles trechos de livros que a gente anota, dobra a pontinha da página em que estão ou destaca com canetinha para nunca esquecer? Pois é! Folheando minhas coisas, topei com esse: Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou a minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever e nasci para criar meus filhos. [1] Poxa, quanta certeza. Tem gente que se debate com essa questão de qual é seu propósito no mundo durante toda a vida e enumera, quando muito, apenas uma coisinha pela qual valeria a pena viver e morrer. Estou falando, como já devem ter percebido, da bela Clarice Lispector.

Ultimamente, ando encafifadíssima com seus textos. Por algum motivo (ou por todos os motivos), acabei vendo dois espetáculos inspirados em Clarice e em sua obra (a autora e seus escritos estão inegavelmente associados). Eu poderia ter escolhido outras coisas para ir ver, mas quando ela chama, eu vou. Os espetáculos foram Estudo para missa para Clarice: um espetáculo sobre o homem e seu Deus (dirigido por Eduardo Wotzik) e Clarice Lispector em movimentos (do grupo Azzo de dança). Clarice passeia por todas as artes mesmo ;) Ambos me tiraram do meu lugar e me deixaram feliz, triste, reflexiva e, principalmente, agradecida, como os livros da autora. Clarice é única e me toca profundamente. Esse era seu dom. Ouvir trechos dos seus escritos a partir de outras bocas que não a minha, já que muitas vezes leio seus livros em voz alta para ver se os decifro mais facilmente, é sempre um momento em que o pensamento cala e os ouvidos prestam atenção.

Desde a primeira vez em que me aproximei de Clarice, por meio de sua escritura incomparável, fico espantada com as coisas que ela disse e escreveu. Sou de fato uma clariciana. Ela sempre me deixava ― e acho que sempre deixará — encafifada ;) O primeiro livro que li foi Perto do Coração Selvagem. Já comentei aqui que escolho livros pelo título e esse foi um dos casos. Leitura nada, nada fácil. Mas se tivesse começado por outro livro ou por um conto, duvido que tivesse sido uma tarefa mais dócil também. No caso do conto, devido a sua própria estrutura, ficaria pelo menos mais fácil voltar na leitura para tentar entender aqueles trechos obscuros e talvez tivesse tido menos períodos de pleno blackout isso é verdade, mas sua escrita teria me incomodado, me deixado ensimesmada do mesmo jeito. Não vou dizer que Clarice é para corajosos, mas chega perto.
[1] LISPECTOR, C. A Descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 101.
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