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Uma História Simples

  • Cris Fernandes
  • 30 de mar. de 2018
  • 2 min de leitura

Uma história simples

Esse livro não deveria ter recebido o título de Uma história simples, já que trata de uma atividade, digamos assim, bastante árdua. Leila Guerriero relata os pormenores de uma competição de dança: o Festival Nacional de Malambo de Laborde e a saga de um dos competidores, Rodolfo González Alcántara.

O Malambo é um baile típico entre os gaúchos da parte argentina. No palco, apenas homens (em apresentações solo ou em grupos de quatro) sapateiam acompanhados por um ou dois músicos.

O bailarino de Malambo precisa ser um atleta olímpico em primeiro lugar, pois tal sapateado requere que cada movimento seja executado com perfeição, destreza e velocidade em um tempo máximo de cinco minutos. Os aspirantes apresentam duas versões da dança, uma "forte", característica da província que estejam representando (Norte, se são da zona Norte; Sul, se são da zona Sul, como diz Guerriero), e a chamada "devolução", que corresponde ao estilo contrário da primeira versão.

O que torna o Malambo especial, é o que acontece antes e depois do dia da apresentação. A preparação dura todo o ano que antecede o Festival, com treinos diários e disciplina militar. Tudo isso é feito na base do sacrifício, literalmente, seja pelas dificuldades financeiras que a maioria dos competidores enfrentam, seja pela técnica que precisam dominar. O grande campeão, ao receber essa verdadeira glória, como me parece que seja, também se compromete a nunca mais competir nessa categoria pelo resto de sua vida. Isso significa que sua carreira tem dia e hora marcados para começar e terminar.

Ao ser campeão, o malambista desfrutará de tudo aquilo que isso representa, mas só até um novo campeão ser consagrado, depois entra para o limbo, junto com os antigos vencedores, podendo ser tornar um treinador de futuros aspirantes ou juiz de competições de danças folclóricas...

Capa da versão do kindle.

O Festival de Malambo de Laborde não tem absolutamente nada de glamoroso. Os camarins são coletivos, a estrutura é toda comandada pela gente local, os participantes devem usar roupas típicas sem grandes adornos e ter uma conduta irrepreensível. Talvez esteja aí a simplicidade a que a autora se refere.

Segundo Guerriero, o verdadeiro prêmio de Laborde [...] é tudo o que não se vê: o prestígio e a reverência, a consagração e o respeito, o destaque e a honra de ser um dos melhores entre os poucos capazes de dançar essa dança assassina. No pequeno círculo majestoso dos dançarinos folclóricos, um campeão de Laborde é um eterno semideus (p. 15).

O fato de nunca mais poder competir não me chama tanta atenção. Afinal, é o reconhecimento de algo que se realizou com perfeição, desfazendo luz e trevas ao mesmo tempo, e alcançou aquela faísca de compreensão e transe tão raros de se obter e que é sim para poucos. A motivação e a coragem de tentar é o que surpreende e a pergunta que me fiz não foi a de por que esses homens querem o título de campeão, mas como conseguirão obtê-lo. Afinal, há espaço para um apenas.

Um dia, quem sabe, irei ver o Festival com meus próprios olhos.

Confira esse vídeo do campeão de 2014, Ariel Perez, para entender do que estou falando!

Uma história simples (2015)

Leila Guerriero

98 páginas

Editora Bertrand Brasil

 
 
 

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